Início Aurélia Teixeira Férrer – Ledy (F.13) F.13 – Aurélia Teixeira Férrer (Freira)
F.13 –   Aurélia Teixeira Férrer  (Freira)

F.13 – Aurélia Teixeira Férrer (Freira)

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Aurélia Teixeira Férrer (Freira)
Aurélia Teixeira Férrer (Freira)

Aurélia Teixeira Férrer (Irmã Férrer, Madre Férrer ou ainda Tia Ledy,
como era carinhosamente tratada pelos seus sobrinhos, e a quem me compete
reverenciar neste texto seguiu a carreira religiosa, tal como o irmão, de nome
Sandoval, que chegou, na vida eclesiástica, à dignidade de Cônego.
Era, na ordem dos filhos de Mariinha Férrer e de Vicente Férrer de
Araújo Lima, a décima terceira na linha de sucessão filial. E também a segunda
a receber o nome da primeira filha do casal, falecida aos 17 anos.
Nasceu em Lavras da Mangabeira, aos 26 de novembro de 1905. As
primeiras letras aprendeu -as no próprio ambiente familiar e as tomou dos
professores Henrique Augusto de Aqui no e Afonso César Targino Filho, este
último Juiz de Direito da Comarca de sua terra de berço. Em 1923, entrou para
o Colégio Nossa Senhora do Sagrado Coração, em Fortaleza, dirigido pelas
Irmãs Dorotéias, onde realizou os estudos secundários e o curso complementar.
A inclinação de Aurélia, para a vida religiosa e espiritual, não se deve
apenas à influência do irmão, o cônego Sandoval, que foi, por sinal, a amizade e
o afeto que lhe tocaram de perto a sensibilidade. Essa inclinação, ao contrário,
atende a u m jeito de ser de seus predecessores. O ilustre sacerdote lavrense,
João Correia da Costa Sobreira, por exemplo, era irmão da sua bisavó
Pulquéria. E da casa do seu trisavô, Francisco Xavier Ângelo, provinham os
célebres revolucionários lavrenses, padres José Joaquim Xavier Sobreira, Cosme
Francisco Xavier Sobreira e Francisco Xavier Gonçalves Sobreira, todos, assim
como o primeiro, formados no tradicional Seminário de Olinda.
Alguns colaterais de Aurélia assumiram, igualmente, funções
sacerdotais de forma muito virtuosa. Mas nenhum deles, parece -me, e nenhum
deles – repito –, em grau de santidade e apego aos Evangelhos, foi superior
àquele que é, de fato, a glória suprema do ramo materno da família – Tito de
Alencar Lima (Frei Tito), célebre dominicano brasileiro de renome
internacional e primo, aliás, em segundo grau, de Aurélia.
Decidindo-se pela vida religiosa, em Olinda – PE, fez o noviciado da
Congregação das Irmãs de Santa Dorotéia, onde teve por professor de Latim o
Monsenhor Pedrosa. Terminando o aprendizado religioso em Olinda, seguiu
para São Luiz do Maranhão, onde iniciou o seu apostolado, vindo em seguida
prestar serviços à congregação em Fortaleza.
No Colégio da Dorotéias de Cajazeiras(PB) esteve por um período de
dez anos e, em Alagoa Grande, no mesmo Estado, permaneceu durante os anos
de 1954 e 1955. A Ordem das Dorotéias conduziu -a para Belém em 1956 e, em
1959, as exigências do apostolado a levaram aos Estados Unidos, onde residiu
por um período de quatro anos, regressando ao Brasil em 1963.
Ali, estabeleceu-se na região da Nova Inglaterra, mais precisamente em
Bristol e New Betford, onde realizou intenso trabalho social, ali realizando os
estudos superiores em Teologia e Psicologia na Universidade da Providência,
em East Providence.
Nos Estados Unidos, manteve relações de amizade e de serviço
comunitário com a família Kennedy, de cuja residência foi hóspede, sendo,
inclusive, correspondente de Jacqueline Kennedy no Brasil. Foi também
correspondente, no Brasil, de Dag Hammarsjöld, ex -Secretário das Nações
Unidas, a quem conheceu em uma de suas viagens à Europa, e cujo perfil
cinzelou em um de seus escritos em prosa
Dos Estados Unidos regressou diretamente para Belém -PA, onde viveu
a maior parte da sua vida de religiosa. Ali integrou o núcleo regional da
Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, por designação da Arquidiocese de
Belém, e militou como jornalista profissional na imprensa da capital paraense,
especialmente junto aos jornais O Liberal, A Província e A Folha do Norte,
mantendo na Rádio Liberal um programa de orientação religiosa.
Em 1966, a serviço da Congregação, viajou por Portugal, Espanha,
França, Itália, Suíça, Alemanha, Grécia e Israel, registrando essa peregrinação
em magistrais poemas tocados pela magia da fé. Retornando a Belém,
prosseguiu no seu apostolado, sendo transferida para Fortaleza em 1977, onde
desenvolveu parte da sua missão apostolar, religiosa e educativa, junto ao
Colégio de Nossa Senhora do Sagrado Coração, do qual foi professora e
secretária. Junto à Arquidioces e de Fortaleza, dirigiu, por algum tempo, o
Boletim Informativo Arquidiocesano, por designação do Cardeal Aloysio
Lorscheider, de quem foi colaboradora em vários projetos de cunho social.
Nas lides do magistério, distinguiu -se como professora de inglês, latim,
francês, história e português. Além da publicação Na Voz do Uirapuru, e de
outros folhetos que divulgou em vida, colaborou com a imprensa de Fortaleza e
de outros Estados.
Poetisa de extraordinários recursos e prosadora de erudição e talento,
em 1980, publicou, em Brasília, pela Gráfica do Senado Federal, um
substancioso livro de poemas – Em Busca da Plenitude, bastante elogiado pela
crítica e com ele propondo-se a restabelecer a poesia em Cristo, de quem se fez
amante fiel e fervorosa.
Estreando, aos 75 anos, com um livro pleno de poemas maduros e
desataviados, chamou de logo a atenção de grandes escritores cearenses, tais
como Jader de Carvalho, José Valdivino, Moreira Campos, Linhares Filho e
Artur Eduardo Benevides, que escreveram, de forma apaixona da (e cada um a
seu modo), sobre o significado e a leveza estética da sua linguagem literária.

Em 1986, atendendo a apelo de ordem interior, publicou o livro –
Mensagens e Perfis, pela Editora do BNB, sob a chancela de Mauro Benevides, e
com apresentações de Eduardo Campos e Joaryvar Macedo. Trata -se, no caso,
de um conjunto de ensaios e reflexões, todo ele aberto à participação e ao
diálogo. E assestado também para a dimensão espiritual dos grandes homens do
seu tempo, que se encontram ali perfilados.
Se Em Busca da Plenitude reúne poemas tocados pela força do amor,
pela transcendência da meditação, pela magia da fé, pelo sortilégio do espírito e
pela seiva vivificante da sensibilidade e do afeto, Mensagens e Perfis, a seu
turno, revela, para todos nós, um a prosadora plenamente senhora da linguagem
e da mundividência com as quais apreende a composição do seu artesanato.
No livro com que a Irmã Férrer assinala o seu ingresso no convívio das
letras, eu diria que aparece exposta a fratura da sua incontrolada e moção, a
fratura da sua mensagem de sensibilidade e de encanto, ungida pelo sândalo da
sua alegoria criativa e pelo compromisso com o soerguimento de um novo
amanhã.
A poesia com que ela nos brinda o sentimento rebelado diante das
asperezas do mundo representa muito bem o atestado de quem se deixou
desabrochar poetisa em estágio de maturidade, circunstância, aliás, que se deixa
fotografar em todo o conjunto da sua luminosa produção, em cujo esteio a
Madre Férrer se expõe como notável escritora, até mesmo no s poemas em que a
rima e o ritmo de gosto popular predominam.
Prova-nos a Irmã Férrer a sua segurança quando trabalha na confecção
de poemas caracteristicamente mais longos; entretanto, nada nos fica a dever
quando nos revela a sua perplexidade de artista na feitura de poemas de menor
dimensão, ou ainda quando parte para a montagem de um soneto do porte de

“Mãos Sacerdotais”, sendo deveras proveitoso o efeito por ela extraído dessa
modalidade de composição.
Quanto a seus textos, reunidos em Mensagens e Perfis, não saberia o
que melhor apreciar: se as suas crônicas, banhadas pela leveza do cotidiano; se
os seus ensaios, ungidos pelo encanto do lirismo e das revelações. Sua
linguagem, por outro lado, parece facilmente acessível a qualquer tipo de leitor,
e como função social os seus textos valem, sobretudo, pela mensagem com que
a autora imanta a sua produção literária.
E por tudo isso, aliás, é que Joaryvar Macedo nos assegura que as
crônicas enfeixadas em Mensagens e Perfis, são “reveladoras de uma prosa leve ,
suave, simples e, por isso mesmo, agradável e aliciante”, tendo Eduardo
Campos, da mesma forma, nos garantido que Deus está presente nas páginas
descritas pela Irmã Férrer, “presente pela luminosidade de espírito de uma
religiosa que sabe ver, sentir e escrever com segurança”.
Quando fala de monstros sagrados como Tancredo Neves, João Paulo
II, Enrichetta Cesari, Teilhard de Chardin ou João Gonçalves de Sousa, por
exemplo, a Irmã Férrer parece chegar ao melhor equilíbrio da sua produção.
Contudo, não fica atrás quando descreve o drama dos desamparados, o
universo dos simples ou a angústia dos que se acham privados do senso de
fraternidade e humanização.
Devo registrar, agora, que os seus livros acima referidos, com a ajuda de
Miriam e de Zenilo Almada, foram por mim lançados no Náutico Atlético
Cearense, em 20 de junho de 1990. E sobre eles escrevi um texto de crítica
literária, que publiquei no Diário do Nordeste e que reproduzi no meu livro
Ossos do Ofício (Fortaleza, Editora Oficina, 1992).

Orgulho-me também de ser o autor do seu perfil biográfico, aquele que
se pode ler num dos meus livros mais afetuosos – Lavrenses Ilustres (Fortaleza,
BNB-Secult, 2ª edição, 1986). Ali, de forma didática e resumida, exalto a sua
postura de poetisa e de mulher, a sua trajetória exemplar de sertaneja que
honrou a sua terra natal e o Brasil, mercê da sua projeção internacional, e que
faleceu em Fortaleza, aos 10 de dezembro de 1995.
Lamento que seu último conjunto de poemas, intitulado Poesias, ainda
permaneça inédito, juntamente com o seu Diário de Viagem à Europa e Oriente
Médio, escrito em 1966. Sei que essas relíquias e os seus objetos de uso pessoal
foram recolhidos pela direção da Província Religiosa a que pertencia.
Dali, em duas oportunidades, pelo menos, eu a carreguei nos braços
para a Assistência Municipal de Fortaleza e o Pronto Socorro dos Acidentados,
quando, sucessivamente, vítima de pequenos acidentes, fraturou o fêmur e a
bacia. Nessas ocasiões de dor e sofrimento, ela se limitava a sorrir, olhava -me
carinhosamente nos olhos e dizia: “Dimas, sempre você por perto cuidando de
mim”.
Não. Não era. O amor filial que eu tinha pela Madre Férrer era que me
permitia a graça da aproximação, é que me havia dado o ensejo de levar os seus
livros para as editoras. Numa dedicatória/agradecimento que me fez no
primeiro de seus livros, registrou a minha participação no projeto. E quando
publicou o segundo, pediu- me, de forma carinhosa, que escrevesse a
apresentação. Mas vendo que eu havia indicado Joaryvar Macedo e Eduardo
Campos para a execução da tarefa, reservou -me a quarta -capa do livro e não
perdoou a minha sutilidade de amigo.
Pregoeira da mansidão e da bondade, mestra da vida espiritual e afetiva
e expressão de amor maternal que muito me ensinou acerca da arte de viver , a
Irmã Férrer constitui para mim o exemplo de quem se faz luz para o mundo, e
ancora em Deus o significado de toda a existência terrena.
Acho que a sua posição de líder espiritual da família, deu- lhe uma
posição de destaque entre todos os que admiravam a sua postura de santa e de
doutora. Convivi com ela não apenas nesta condição, mas na condição de
lavrense e de sócio privilegiado do Clube de Amigos que partilharam com ela as
atenções de cearenses com quem interagiu e conviveu em sua proveitosa
existência.
Talvez me seja lícito apontar, entre suas admirações, o ex -ministro João
Gonçalves de Sousa, Dona Risoleta Neves e o industrial Edson Queiroz, de cuja
intimidade privou com o maior entusiasmo. E de forma muito especial, eu não
posso deslembrar os nomes de Artur Eduardo Benevides e Dona Yolanda
Queiroz, registrando que ninguém despertou mais bem-querer da sua parte do
que Rachel de Queiroz, sua amiga e interlocutora privilegiada.
Lembro-me das nossas conversas com Dona Yolanda Queiroz, tanto na
Província das Dorotéias, no bairro Dias Macedo, quanto na sede do Grupo
Edson Queiroz, na Praça da Imprensa. Quanto a Rachel de Queiroz, invoco o
fato de que Rachel vivia permanentemente interessada por Fideralina Augusto,
a célebre matriarca lavrense. E éramos Joaryvar Macedo, eu e a Irmã Aurélia
Férrer as fontes que Rachel, às vezes, recorria enquanto finalizava o seu clássico
– Memorial de Maria Moura (São Paulo, 1992).
E tanto que, quando publicou o seu texto sobre a grande coronela
lavrense, intitulado Dona Fideralina das Lavras (Rio, 1990), foi a Irmã Férrer a
destinatária da distribuição do folheto entre os seus amigos cearenses. Heloisa
Buarque de Hollanda, co-autora de Dona Fideralina das Lavras, afirmou, certa
vez, que um dos orgulhos de Rachel era ser conterrânea de três mulheres que
muito admirava: Fideralina Augusto, Sinhá D’Amora e Aurélia Férrer, todas,
coincidentemente, minhas conterrâneas e personagens de um dos meus livros
sobre o município de Lavras.
Se, entre nós, sabemos ou não sabemos o significa do dessa poetisa
estupenda e dessa cronista de escol, que o Ceará legou à literatura do Brasil,
talvez não importe tanto no momento, quanto o fato de que, neste ano de 2005,
a Sociedade Amigas do Livro – SAL está sintonizada com o seu centenário.
É a essa sociedade de mulheres que devemos a homenagem que hoje se
presta à sua memória imperecível. À Gláucia Férrer Pompeu, em primeiro
lugar, e à Glaura Férrer Dias Martins, sobrinhas diletas de Aurélia, sou grato de
uma forma muito especial. E à Regina Fiúza, também, que me convidou, de
forma prazerosa e sincera, para aqui falar sobre um dos esteios de toda a minha
vida pessoal.
Parte do discurso proferido por Dimas Macêdo, em homenagem aos cem anos da
Madre Férrer.

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